Fotografar ou Observar Aves?
Faço-me essa pergunta de vez em quando, geralmente quando episódios tão interessantes do ponto de vista da pura observação relegam a
fotografia a segundo plano. Confesso que a dúvida nunca existiu em
minha cabeça até eu começar a ler comentários aqui e ali em blogs, redes sociais e outros sites
relacionados à ornitologia.
Entendo os defensores da simples observação quando criticam certos fotógrafos que, uma vez feita a fotografia pretendida, imediatamente querem sair em busca de mais um registro de outra ave diferente, às vezes perdendo a oportunidade de se deliciar com os comportamentos mais simples ou extraordinários das aves já registradas. Não é meu caso.
Não vejo essas atividades como mutuamente excludentes. Afinal das contas, é necessário ver para fotografar e Ver é uma forma muito importante da observação. Não podemos nos esquecer que o Observar inclui também o Escutar, atividade, no caso das aves especialmente, tão ou mais prazerosa que o simples Ver.
Não vejo essas atividades como mutuamente excludentes. Afinal das contas, é necessário ver para fotografar e Ver é uma forma muito importante da observação. Não podemos nos esquecer que o Observar inclui também o Escutar, atividade, no caso das aves especialmente, tão ou mais prazerosa que o simples Ver.
"Quando saio para fotografar - sim, para mim o objetivo principal é a fotografia - acabo fotografando o que, na verdade, estava observando."
No post anterior comentei que fiz mais de
quarenta fotos da fêmea da maria-preta-de-penacho, e não foi à toa. Gastei um
bom tempo com ela, prestando atenção no modo como subia ou mergulhava em busca
dos invisíveis insetos de que se alimentava, ou como, já saciada, se aquietou em
um galho baixo para se coçar e arrumar as penas. Nesse período, um tico-tico
pousou por perto e o peguei em duas fotos rápidas, o que não atrapalhou em nada
a paquera com a maria-preta.
Mas este post tem
por objetivo mostrar uma sequência de fotos, decorrente do ato conjunto
de observar e fotografar simultaneamente, que me encheu de felicidade.
Fui com meus irmãos e sobrinhos para um resort na Bahia, logo no início do ano.
Um dos meus irmãos já havia estado lá e comentou que viu um jacuzinho pequeno,
meio marrom, diferente dos que víamos em Manhumirim ou no sítio. Claro que fiquei coçando para fotografar mais uma espécie diferente. Embora não fique
desesperado para caçar lifer atrás de
lifer, quem é que não gosta quando
aparece um?
Rodei bastante o resort
nos dois primeiros dias mas não achei os jacuzinhos. No terceiro dia, à
tardinha, quase noite, uma sobrinha me avisou que havia um deles sobre uma
ponte de acesso à piscina. Necessária uma rápida descrição da área: a piscina
fica entre o hotel e a praia e o acesso do hotel a ela se faz por várias pontes de
madeira sobre um córrego/brejo com pequena matinha ciliar meio artificial.
Pois bem, corri para a tal ponte, mas só vi de longe o vulto
de uma ave bem grandinha voar para o mato. Com a luz já escassa,
procurei o bicho entre os galhos sem resultado. Ficou a esperança de achá-lo na
manhã seguinte. Acordei cedo e fiquei paquerando todos os caminhos e recantos da beira do
córrego. Nada. Só a turma de passarinhos com que já havia me fartado nos dias
anteriores, mas eu queria mesmo era descobrir que diabo de jacuzinho era
aquele.
Logo depois do almoço resolvi dar uma última passeada antes
da siesta, que ninguém é de ferro, e
ao chegar à entrada de uma das pontes levo um susto com um bicho que vem voando
e pousa no seu corrimão, a poucos metros de mim. Claro que era ele. Uma beleza!
Fez pose e tive até que me afastar um pouco para ele caber inteiro na lente. Nessa hora, entra do outro lado da ponte uma turma vinda da piscina, pai, mãe, filhos, vó... Apressei-me em bater as fotos pois sabia que quando se aproximassem era certo que o bicho ia voar. Quando chegaram mais perto um idiota (sempre tem um) deu uma corrida para espantar "aquele bicho horroroso" pousado no seu caminho. Tem hora que a gente não pode mesmo ter uma arma, viu. Dei-lhe um espor... uma bronca, e seguiram seu caminho, olhando-me como se eu fosse o doido.
Fez pose e tive até que me afastar um pouco para ele caber inteiro na lente. Nessa hora, entra do outro lado da ponte uma turma vinda da piscina, pai, mãe, filhos, vó... Apressei-me em bater as fotos pois sabia que quando se aproximassem era certo que o bicho ia voar. Quando chegaram mais perto um idiota (sempre tem um) deu uma corrida para espantar "aquele bicho horroroso" pousado no seu caminho. Tem hora que a gente não pode mesmo ter uma arma, viu. Dei-lhe um espor... uma bronca, e seguiram seu caminho, olhando-me como se eu fosse o doido.
O jacuzinho assustado, pero
no mucho, voou para uma moita bem ao meu lado e ficou lá piando baixinho.
Fiquei quieto para ver se ele dava as caras de novo e, para minha surpresa, lá
de onde ele havia voado para a ponte, com o canto do olho vejo um pequeno vulto
voar e pousar no chão. Um filhotinho ainda pequenininho veio se juntar à
mãe/pai, logo depois vieram mais três que também entraram na tal moita.
Rodeei o mato em busca de uma brecha onde pudesse vê-los e
consegui observar uma cena repleta de delicadeza. O adulto começou a bicar uma
frutinha vermelha, do tamanho de uma goiaba pequena, e com graça gentil oferecia
pequenos pedacinhos para os filhotes.
Todo esse episódio durou bem uns 10 minutos. Esse tempo foi
gasto com muita observação e, lógico, com uma montanha de fotos, inclusive com
troca de cartão de memória. E era isso que eu queria dizer: observar e
fotografar podem se complementar sem stress. Não há nada que nos impeça de exercer
ambas as atividades ao mesmo tempo, e com um benefício extra, podemos
compartilhar momentos significativos com os amigos. Então, observem as fotos.
Ah! O tal jacuzinho era o aracuã (http://www.wikiaves.com.br/aracua). Lindo.
Melhor do que ver suas fotos é ler o seu texto, é uma delicia, a gente consegue visualizar e antever as fotos assim que começa a ler. Que venham mais fotos lindas, mas sempre acompanhadas desta leitura agradavel. Selma
ResponderExcluirOi, Selma, obrigado por suas palavras tão gentis.
ExcluirAbraço.
Parabéns Daniel. Como já havia escrito: você é um poeta. Grande abraço e que continue assim - observando ("vendo"), fotografando e escrevendo belos textos. Tadeu Melo Jr.
ResponderExcluirValeu a força, Tadeu. Obrigado.
ResponderExcluirAbraço.
Que beleza, Daniel!
ResponderExcluirConcordo com você, tem dia que é das fotos, outros são dos olhos nus, outros são dos ouvidos. Tudo que as aves nos oferecem aceitamos com alegria :).
Grande abraço e parabéns por mais esse belo post!
Ricardo, você resumiu tudo muito bem.
ExcluirBasta aceitarmos com alegria.
Abraço.
Ô Daniel,
ResponderExcluirQue beleza! A observação e as fotos. Sem maiores prosopopéias você demonstra que um ornitófilo de verdade pode observar, se enternecer, fotografar, olhar mais um pouco, tornar a se enternecer... Linda a família do aracuã! Não me lembro de ter conhecido essa ave. Agora o seguinte: que jé um jacuzinho, é.
Grande abraço,
Nilseu
Obrigado, Nilseu. A gente fica meio bobo às vezes, quando se depara com os comportamentos tão "humanos" dos animais. Não encontro outra palavra, a não ser carinho, para definir o cuidado desse jacuzinho com os filhotes.
ResponderExcluirAbraço.
Caro amigo Dani,
ResponderExcluirestou com saudades dos nossos passeios e devaneios, pelos Sertões de Minas Gerais. Parabéns pelo crescimento na habilidade de fotografar e apreciar a vida.
Gosto muito de me deitar à beira de um rio e ouvir a algazarra da passarada.
Eles nem percebem a minha presença, e assim vou tentando identificar cada canto.
Grande abraço.
Brinati
Ei, Brinati, estamos sumidos né?
ExcluirPrecisamos nos encontrar.
Olha aí, você é um birdwatcher de mão cheia, embora se ache apenas um pescador. hehehe...
Abraço.
Que maravilha de narrativa e de fotos Daniel. Parabens pela facilidade que voce tem de descrever tão bem os momentos que voce eterniza com as fotos.
ResponderExcluirGrande abraço.
Muito obrigado, José Sílvio. A gente vai tentando...
ResponderExcluirAbraço.
Olá Daniel!
ResponderExcluirBelo texto, ótimo registro, um verdadeiro ensaio fotografico graças ao seu poder de observação.Agrega valor à sua narrativa seu foco no comportamento do observado.
Parabéns!
Abraço
Otacilio Tiago
Valeu, Otacílio, muito obrigado.
ExcluirAbraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMaravilha de Post Daniel! Otimo texto, lindas fotos!!!
ExcluirParabéns!
Valeu, Nelson. Muito obrigado.
ExcluirAbraço.
O que posso concluir: você é fotógrafo, observador e poeta! Belo Texto, belas fotos... Parabéns!
ResponderExcluirObrigado, Niuza, não mereço comentário tão generoso.
ExcluirAbraço.
Daniel, Parabéns, belissimo texto, que sensibilidade e devaneio pela natureza: plantas, moitas, galhos, córrego... Quando cheguei nas fotos já estava apaixonado pelos jacuzinhos, que beleza, admirável... Ameiii
ResponderExcluirWallace Lima
Wallace, obrigado.
ExcluirSe a gente não tomar cuidado esses bichos pegam a gente e não largam mais. Eu dancei há muito tempo.
Abraço.