Foi assim que começou um dos mais interessantes momentos da
minha vida de passarinheiro.
Estávamos em Sacramento, na Fazenda Portal da Canastra,
debaixo da varanda, com uma linda vista para os lados do Parque da Serra da
Canastra, que estava fechado devido ao incêndio que o consumiu quase todo. Já
havíamos passarinhado o dia inteiro, inclusive depois do almoço, com o sol
ainda quente, e o cansaço já estava nos pegando de jeito.
Dois companheiros estavam sumidos lá para as bandas de uma
matinha de galeria que margeava o córrego de águas limpinhas. O tempo estava
muito quente e seco durante todo o dia, mas umas nuvens meio carregadas estavam
rodeando, prometendo um chuvisquinho. O adiantado da hora e as nuvens já
estavam nos fazendo recolher as câmeras, pois a luz já não estava lá essas
coisas.
De repente ouço um alvoroço, viro-me e lá estavam o Paulo e o
Alessandro chegando correndo:
...grsfn arf dowx ‘mo á
pido krwzufa ixo arf brw ‘jinho tem ufa lrdr s’ jfsss fila e Ca clinho arf ufa
melho e a lito... drwxz arf ‘tativa ufa ah essa pawdr ôsca ajah shsshs em ogo
orre.
Não entendi nadinha de nada, mas o Xará, o Guilherme, o Luís
Henrique, o Ricardo e o Rodolfo parece que entenderam alguma coisa, porque já
foram agarrando as câmeras e saindo correndo atrás do outros dois, que já
tinham se virado e se mandado por onde vieram. Prá variar, minha câmera, no seu
tripé, estava para o lado errado e lá fui eu para a direita quando todo mundo
estava indo prá esquerda. Quando voltei só o Rodolfo ainda estava do lado de cá
da primeira de um monte de cercas que tínhamos que atravessar. Com sua lente de
400 mm e o tripé parrudo que tem, não foi fácil vazar as cercas e passar pelas
porteiras, passadores e tronqueiras. Fomos eu e ele nos ajudando um ao outro e
vendo o resto do pessoal sumindo morro abaixo. Ai começou um chuvisco besta, daqueles
que não molha muito mas que é um veneno para as lentes. E toca a procurar a
sacolinha plástica (não reciclável) que devia estar no bolso do colete mas eu
não achava, e tirar a camisa para proteger a lente, e tudo isso sem parar de
andar o mais rápido que conseguíamos no pasto com capim meio alto e meio
molhado, para não perder o pessoal de vista.
Quando alcançamos o resto da turma meus óculos estavam todos
respingados, o tênis molhado, a barra da calça úmida até o joelho, o Rodolfo
idem e sem camisa, os outros, na mesma situação precária, no meio de um matinho
baixo e capim alto em volta de um brejinho com uns arbustos cheios de galhinhos
e folhinhas daqueles encomendados justamente para ficar bem na frente do olho
dos passarinhos.
A luz já tinha ido prás cucuias, nuvens, chuvisco e horário
estavam todos conspirando contra. Mas lá, no meio dos galhinhos infernais,
estava um bandinho de papa-capins. Eu só percebi isso, eram uns 15 a 20 papa-capins, e eu só via
fêmeas. Bater foto para que? Sporophila sp? Decidi só observar. Mas observar
com óculos respingados e no lusco-fusco também não rende nada de muito
interessante. Uns voavam para lá, outros para cá, o pessoal se aproximava pela
direita e eles iam para a esquerda, e assim eu fiquei a ver a turminha deles e
a nossa a se tourearem na garoa. Mas aí escutei alguém falar: olha a patativa lá!
Êpa! Aí a conversa mudou, patativa é um bichinho que só
conhecia de ouvir falar, nem em gaiola eu vi. E toca a bater foto de tudo
quanto é coisa avoante que eu via. Não queria nem saber o que era – numa delas
eu tinha que pegar o bicho. Foco automático nem pensar, tinha que ser o manual,
do qual eu apanho feio. Velocidade baixa, ISO alto, abertura grande (f
pequeno), tripé agarrando no capim alto, postura instável por causa dos tocos e
buracos escondidos no mato. Chuvisco molhando tudo. Não tinha a menor ideia do
que ia dar. Provavelmente um monte de borrõezinhos escuros ou claros demais,
mas vamos lá.
Caboclinho-de-barriga-vermelha |
Caramba! Quem falou Caboclinho-de-barriga
vermelha? Só podia ser brincadeira, eu só via mais uma manchinha atrás de
uma folhinha. Jóia – pulou para um arbusto mais aberto. Galito? Eu não vi nada
parecido com galito. Onde? Papa-mosca? Daquele tamanhinho? Nessa luz? Nem
procurei.
Chopim-do-brejo |
Em pouco tempo o chuvisco diminuiu, mas havia escurecido bem.
Resolvi parar e começar a subir o morro devagar. Chegou um bando de
chopins-do-brejo. Parei e comecei a tentar fotografar um, que estava mais no
limpo, de vigia. Quando resolvemos ir embora eles caíram na gargalhada como se estivessem
nos enxotando. Podem dizer o que quiserem, mas todo mundo que estava lá achou a
mesma coisa – estavam gozando nossa cara. A gente parava, eles paravam, a gente
andava, eles começavam.
Papa-capim - Fêmea |
No meio do morro, mais uns bichinhos que eu não vi e nem sei
o que eram, mas que fizeram o pessoal se alvoroçar todo. Era o papa-moscas-canela, raro e pela primeira vez fotografado nas imediações do parque (eu nem vi mesmo). Fiquei mais para trás
e acabei vendo alguma coisa num galhinho e resolvi tentar a sorte, não custava
tentar.
Tico-tico-do-campo |
No dia seguinte, depois de umas 7 horas de
viagem, em casa, fui dar uma conferida nos borrõezinhos, meio que
desacreditando... Tinha certeza que não iria aproveitar nada. Mas para minha
surpresa, com boa vontade e muito Paint Shop, deu para salvar alguma coisa. Da
patativa, nem sinal, mas o caboclinho estava lá, até bem aproveitável. Uma das
fêmeas de papa-capim também ficou bonitinha. O ráio do chopim ficou até bonito.
E não é que já voltando ainda deu para pegar um tico-tico-do-campo e um galito
jovem, “dis costas”?
Galito - Jovem |
Se não fosse o desprendimento desses dois ótimos companheiros,
o Paulo Couto e o nosso guia o Alessandro Abdala, que vieram correndo morro
acima para nos chamar e foram correndo morro abaixo para nos mostrar o lugar
onde o bandinho de papa-capins estava, eu não teria conseguido essa fotos
meia-boca que me deixaram muito feliz. Eu e os demais, tenho certeza, somos-lhes
muito gratos.
Ah! Sim, o aviso!
Quase ia me esquecendo. Depois de conversar
com um e outro, inclusive os dois autores dessa peça intraduzível, cheguei à
seguinte adivinhação:
...grsfn arf dowx é isso mesmo, ...grsfon
arf dowx / ‘mo
á pido deve ser vamos rápido / Krwozuf também deve ser isso mesmo, Krwzuf / a ixo arf, é
lá baixo, respira / brw
‘jinho tem só pode ser brejinho tem / ufa é
ufa, deixa eu respirar / lrdr s’
jf, fica assim mesmo,
não tenho a menor idéia / sss fila e Ca clinho só pode ser sporophila e caboclinho / arf ufa é deixa
eu respirar mais um pouco / melho
e a lito deve ser vermelho e galito / ...
drwxz arf fica como
está / ‘tativa é a patativa / ufa ah, respira / essa
pawdr ôsca deve ser depressa, papa mosca / ajah
shsshs eu não sei o
que pode ser / em ogo orre é vem
logo, corre.
Então, fica assim: Vamos rápido, lá em baixo, no brejinho tem
um bando de sporophila, caboclinho-de-barriga-vermelha e galito... patativa,
papa-mosca, vem logo, corre!
E como corremos.
Participaram dessa miniaventura: Alessandro Abdala (Guia), Daniel Esser (Ecoavis), Daniel Santos (Ecoavis), Guilherme Serpa (COA-RJ), Luís Henrique (Ecoavis), Paulo Couto (Ecoavis), Ricardo Gagliardi (COA-RJ) e Rodolfo Eller (COA Sulfluminense).
Participaram dessa miniaventura: Alessandro Abdala (Guia), Daniel Esser (Ecoavis), Daniel Santos (Ecoavis), Guilherme Serpa (COA-RJ), Luís Henrique (Ecoavis), Paulo Couto (Ecoavis), Ricardo Gagliardi (COA-RJ) e Rodolfo Eller (COA Sulfluminense).
Observações: 1 – O resto do pessoal conseguiu fotos bem melhores que essas
aí em cima. Procurem aí pela web que vocês vão achar. Vale a pena. 2 – O Hotel Fazenda Portal da Canastra, inicialmente, serviu
de apoio para nossas andanças nos fornecendo um delicioso almoço feito pela esposa do Sr. Álvaro, que é o proprietário. No entanto, as
instalações da fazenda, as árvores ao redor da sede, os comedouros e bebedouros
para o gado de leite, os pastos, a matinha de galeria, o brejinho, tudo isso
atrai várias espécies de aves, o que o transforma em uma excelente opção para
hospedagem de quem quer ir ao Parque, com a vantagem extra de estar a apenas 4
km da portaria. 3 – Nossa viagem foi acertada e programada pela
Maritaca Turismo, que nos indicou o excelente guia Alessandro Abdala e, devido
ao incêndio que fechou o acesso ao parque, teve a agilidade necessária para
alterar toda a programação na última hora (eu já estava na estrada), transferindo
o evento de São Roque de Minas para Sacramento, e mesmo assim fazer a viagem
ser um sucesso.
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirSensacional trabalho Daniel! Votos de sucesso nesta nossa empreitada!
ResponderExcluirCongratulations Daniel...that was a fantastic photo blog you did ...you are good and and even better and best....2thumbs ...too bad i did not understand the Brazilian write-up...but the photos are fantastic!
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