Foto cedida por Alessandro Abdala

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Costa do Sauípe

Embora soubesse que ficaria o tempo todo na área de um resort, fui para a Bahia com a esperança de muitos lifers, isso porque, pelo Google, deu para ver que havia muito terreno com vegetação natural, o que me animou. Vã esperança. Grande quantidade e pouca variedade.
O pessoal do resort Costa do Sauípe não tinha preparo nenhum para ajudar. Ninguém conhece nada de aves. A melhor informação que consegui, quando mencionei que gostava de fotografar aves, foi: "Nossa, aqui tem passarinhos bonitos demais, você precisa de ver os bem-te-vis que tem aqui".
Assim, fui a campo procurar os bem-te-vis e seus amigos alados.

Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus ) - Great Kiskadee
Coitado, comum, ninguém lhe dá bola, mas são lindos mesmo. Havia muitos e muito mansos, já que estavam acostumados a pegar sobras de comida que o pessoal deixava cair perto da piscina.
Sabiá-da-praia (Mimus gilvus) - Tropical Mockingbird
O primo praieiro do galo-do-campo. Tinha para todo lado. Eram os donos do pedaço, punham para correr até bem-te-vis. Para minha surpresa, descobri que convivem juntos com o galo-do-campo, que também havia por lá. O João Vitor Mota me alertou sobre isso, lá no Wikiaves, e me ajudou a corrigir uma confusão entre eles.
Sabiá-do-campo (Mimus saturninus) - Chalked-browed Mockingbird
Olha ele aí, um belo filhotão, achei que era o da-praia, mas era o do-campo
Galo-do-campo (Mimus saturninus) - Chalked-browed Mockingbird
Gosto de fotos assim, embora não se prestem para posts ornitológicos. Vou acabar fazendo uma coleção delas, já que a toda hora cometo esse erro.
Sabiá-barranqueiro (Turdus leucomelas) - Pale-breasted Thrush
Outro passarinho que estava em todo lugar. Bem desconfiados, mas em grande quantidade, alegravam o amanhecer com sua cantoria bonita.
Ferreirinho-relógio (Todirostrum cinereum) - Common Tody-Flycatcher
Com um ninho logo na entrada de uma das trilhas que levava à piscina, virou figurinha fácil. Dou sorte com esse bichinho inquieto, as duas vezes em que o encontrei, deram o maior mole. Na primeira vez, estava coçando as penas lá no sítio e me deixou fazer várias fotos boas. Desta vez, como vinha a toda hora vigiar o ninho, também se deixou fotografar à vontade.
Fogo-apagou (Columbina squamata) - Scaled Dove
Uma das espécies de que não vi grande número de indivíduos. Pareceu-me haver 2 ou 3 casais nos arredores do hotel e só. Gosto muito dessas rolinhas carijós.
Carcará (Caracara plancus) - Southern Caracara
Esse aí resolveu madrugar para ficar com a praia toda para ele. Passeava solenemente pela areia. Não sei o que foi fazer por lá. Em pouco tempo atraiu um casal de suiriris que lhe deu um pega, botando-o para correr.
Suiriri (Tyrannus melancholicus) - Tropical Kingbird
Outra figurinha fácil, tem em tudo quanto é lugar, mas o danado é bonito. Havia vários espalhados por todo o resort.
Sanhaço-do-coqueiro (Tangara palmarum) - Palm Tanager
Esses são elegantérrimos. Havia vários. Vinham descaradamente se servir no balcão de frutas da lanchonete ao lado da piscina e até mesmo nas mesas dos hóspedes.
Sanhaço (Tanager sayaca) - Sayaca Tanager
Até que não tinha muitos, mas encontrei-os todos os dias. Eram mais ariscos que os do-coqueiro, mas também vinham beliscar frutas nas mesas.
Sofrê (Icterus jamacaii) - Campo Troupial
Vi poucos, achei que encontraria bandos, mas encontrei apenas um indivíduo por vez. Não interessa, são lindos e enfeitam qualquer lugar em que estejam. Embora sejam pássaros de gaiola muito mansos, lá, no estado natural, eram muito ariscos. Talvez exatamente pela perseguição de que são alvo.
João-de-barro (Furnarius rufus) - Rufous Hornero
Naquele areal todo, na restinga, fiquei imaginando onde ele arrumaria um pouco de argila para fazer sua casa. Argila não achei, mas ele achou um enxame de cupins e fez a festa.
Andorinha-do-campo (Progne tapera) - Brown-chested Martin
Não havia muitas, mas, junto com o joão-de-barro e uma turma grande e variada de outros pássaros, se fartaram com os cupins.
Cardeal (Paroaria dominicana) - Red-cowled Cardinal
Esse enfeita qualquer lugar. Não havia bandos, mas sempre se via alguns bastante ariscos, inclusive muitos filhotes já grandinhos. Esse aí estava tão interessado em um pedaço de pão velho caído no gramado que me deixou aproximar bastante e fazer esse close.
Canarinho (Sicalis flaveola) - Saffron Finch
Um passarinho que chegou a ficar meio raro de tanto que era caçado para as gaiolas e rinhas de briga. Hoje estão por toda parte nos alegrando na madrugada com seu canto estalado. Um exemplo do que pode acontecer quando se deixa de perseguir os passarinhos.
Garricha (Troglodytes musculus) - Southern House-Wren
Uma figurinha fácil por aqui. Por lá não vi muitas, mas essa aí estava sempre por perto de um dos hotéis, e mesmo assim me deu uma canseira para conseguir essa foto.
Suiriri-cavaleiro (Machetornis rixosa) - Cattle Tyrant
Outro bicho comum, mas bonito e elegante. Sempre proporciona boas fotos.
Godero (Molothrus bonariensis) - Shiny Cowbird
Esses caras não perdoam, estão por todo lado parasitando todo mundo. Vi apenas um filhotão deles, mas não consegui descobrir quem eram os pais enganados.
Socozinho (Butorides striata) - Striated Heron
Protagonista de mais uma daquelas fotos que a gente se morde por não ter feito. Havia um debaixo de uma ponte, num ângulo maravilhoso, água refletindo a mata verdinha no fundo, ponte linda por cima, algumas flores fazendo a moldura perfeita, eu sentado em uma mesa, lugar ideal para firmar a mão e não tremer na hora de pressionar o botão disparador da câmera, e a câmera guardada no quarto. Uma das pouquíssimas vezes que saí sem a câmera. Não deu outra. No dia seguinte, fiz essa aí, sem graça. Foto de passarinho e não foto com passarinho, que é como gosto e como ficaria a outra.
Freirinha (Arundinicola leucocephala) - White-headed Marsh Tyrant
Por 3 dias seguidos vi essa fêmea no mesmo local. O macho não deu o ar da graça.
Saracura (Aramides sp.) - Rail
Pois é, qual delas? Fico completamente perdido para identificar esses bichos. Essa apareceu num entardecer com uma luz linda e um reflexo perfeito. Ganhei o dia.
Periquito-rei (Aratinga aurea) - Peach-fronted Parakeet
Sempre em pequenos bandos, mas cada casal por si. Um dos meus pisitacídeos preferidos.

Cambacica (Coereba flaveola) - Bananaquit
Outro bichinho comum, mas apareceu pouco e sempre muito discreto.

Beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura) - Swallow-tailed Hummingbird
Um dos dois beija-flores que vi, embora o hotel tivesse flores por todo lado. Incompreensível. O outro não consegui nem identificar, de tão rápido que passou.
Saíra amarela (Tangara cayana) - Burnished-buff Tanager
Um casal estava sempre por perto da lanchonete. Fiquei intrigado com a persistência deles em um lugar aparentemente sem nenhum atrativo, a não ser as frutas servidas nas mesas, mas que eles não pareciam nem notar. Somente no terceiro dia descobri que ficavam brigando com seus reflexos na janela da cozinha.
Pipira-preta (Tachyphonus rufus) - White-lined Tanager - Fêmea
Um dos lifers que consegui. Havia um casal na matinha entre o hotel e a piscina, mas me deram um trabalhão para conseguir essas fotos que não são lá grande coisa. Parece que o nome em latim se refere à fêmea, o que geralmente não é o caso.

Pipira-preta (Tachyphonus rufus) - White-lined Tanager - Macho
Aracuã (Ortalis guttata) - Speckled Chachalaka
O outro lifer. Esse me encheu de alegria, conforme já descrito no post anterior. Muito bonito e com filhotes ainda bem pequenos. Uma beleza.
Libélula - Dragonfly
Quando falta passarinho, a gente sapeca o que aparece.
Iguana
Havia duas que a toda hora vinham para a beira da piscina para comer grama. São muito bonitas, não têm medo e chegam muito perto assustando as mulheres e fazendo a festa para as crianças.
 Como falei lá no começo, encontrei poucas espécies, aqui foram 27. Se incluirmos aquelas de que as fotos ficaram impublicáveis e as que apenas escutei, o número deve chegar por volta de 40. Para 5 dias de andança é muito pouco, mesmo para mim, que não sou lá essas coisas para identificar vocalizações.
Espero poder voltar à Bahia em local mais propício para encontrar a passarada que sei haver por lá.
























segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


Fotografar ou Observar Aves?

Faço-me essa pergunta de vez em quando, geralmente quando episódios tão interessantes do ponto de vista da pura observação relegam a fotografia a segundo plano. Confesso que a dúvida nunca existiu em minha cabeça até eu começar a ler comentários aqui e ali em blogs, redes sociais e outros sites relacionados à ornitologia.
Entendo os defensores da simples observação quando criticam certos fotógrafos que, uma vez feita a fotografia pretendida, imediatamente querem sair em busca de mais um registro de outra ave diferente, às vezes perdendo a oportunidade de se deliciar com os comportamentos mais simples ou extraordinários das aves já registradas. Não é meu caso. 
Não vejo essas atividades como mutuamente excludentes. Afinal das contas, é necessário ver para fotografar e Ver é uma forma muito importante da observação. Não podemos nos esquecer que o Observar inclui também o Escutar, atividade, no caso das aves especialmente, tão ou mais prazerosa que o simples Ver.
"Quando saio para fotografar - sim, para mim o objetivo principal é a fotografia - acabo fotografando o que, na verdade, estava observando."
No post anterior comentei que fiz mais de quarenta fotos da fêmea da maria-preta-de-penacho, e não foi à toa. Gastei um bom tempo com ela, prestando atenção no modo como subia ou mergulhava em busca dos invisíveis insetos de que se alimentava, ou como, já saciada, se aquietou em um galho baixo para se coçar e arrumar as penas. Nesse período, um tico-tico pousou por perto e o peguei em duas fotos rápidas, o que não atrapalhou em nada a paquera com a maria-preta.
Mas este post tem por objetivo mostrar uma sequência de fotos, decorrente do ato conjunto de observar e fotografar simultaneamente, que me encheu de felicidade.
Fui com meus irmãos e sobrinhos para um resort na Bahia, logo no início do ano. Um dos meus irmãos já havia estado lá e comentou que viu um jacuzinho pequeno, meio marrom, diferente dos que víamos em Manhumirim ou no sítio. Claro que fiquei coçando para fotografar mais uma espécie diferente. Embora não fique desesperado para caçar lifer atrás de lifer, quem é que não gosta quando aparece um?
Rodei bastante o resort nos dois primeiros dias mas não achei os jacuzinhos. No terceiro dia, à tardinha, quase noite, uma sobrinha me avisou que havia um deles sobre uma ponte de acesso à piscina. Necessária uma rápida descrição da área: a piscina fica entre o hotel e a praia e o acesso do hotel a ela se faz por várias pontes de madeira sobre um córrego/brejo com pequena matinha ciliar meio artificial.
Pois bem, corri para a tal ponte, mas só vi de longe o vulto de uma ave bem grandinha voar para o mato. Com a luz já escassa, procurei o bicho entre os galhos sem resultado. Ficou a esperança de achá-lo na manhã seguinte. Acordei cedo e fiquei paquerando todos os caminhos e recantos da beira do córrego. Nada. Só a turma de passarinhos com que já havia me fartado nos dias anteriores, mas eu queria mesmo era descobrir que diabo de jacuzinho era aquele.
Logo depois do almoço resolvi dar uma última passeada antes da siesta, que ninguém é de ferro, e ao chegar à entrada de uma das pontes levo um susto com um bicho que vem voando e pousa no seu corrimão, a poucos metros de mim. Claro que era ele. Uma beleza! 
Fez pose e tive até que me afastar um pouco para ele caber inteiro na lente. Nessa hora, entra do outro lado da ponte uma turma vinda da piscina, pai, mãe, filhos, vó... Apressei-me em bater as fotos pois sabia que quando se aproximassem era certo que o bicho ia voar. Quando chegaram mais perto um idiota (sempre tem um) deu uma corrida para espantar "aquele bicho horroroso" pousado no seu caminho. Tem hora que a gente não pode mesmo ter uma arma, viu. Dei-lhe um espor... uma bronca, e seguiram seu caminho, olhando-me como se eu fosse o doido.
O jacuzinho assustado, pero no mucho, voou para uma moita bem ao meu lado e ficou lá piando baixinho. Fiquei quieto para ver se ele dava as caras de novo e, para minha surpresa, lá de onde ele havia voado para a ponte, com o canto do olho vejo um pequeno vulto voar e pousar no chão. Um filhotinho ainda pequenininho veio se juntar à mãe/pai, logo depois vieram mais três que também entraram na tal moita.
Rodeei o mato em busca de uma brecha onde pudesse vê-los e consegui observar uma cena repleta de delicadeza. O adulto começou a bicar uma frutinha vermelha, do tamanho de uma goiaba pequena, e com graça gentil oferecia pequenos pedacinhos para os filhotes.
Todo esse episódio durou bem uns 10 minutos. Esse tempo foi gasto com muita observação e, lógico, com uma montanha de fotos, inclusive com troca de cartão de memória. E era isso que eu queria dizer: observar e fotografar podem se complementar sem stress. Não há nada que nos impeça de exercer ambas as atividades ao mesmo tempo, e com um benefício extra, podemos compartilhar momentos significativos com os amigos. Então, observem as fotos. 



Ah! O tal jacuzinho era o aracuã (http://www.wikiaves.com.br/aracua). Lindo.